Recentemente me deparei com uma situação que jamais imaginaria enfrentar: a perda de um amigo de infância! Seria um caso “normal” da vida se não fosse pelo simples fato de estar a quilômetros de distância de onde ele havia falecido, longe do meu país de origem. Fiquei sem saber o que fazer, longe dos amigos, dos familiares e, pior, longe das pessoas queridas que pudessem me amparar naquele momento. Me senti completamente sozinha, sem saber o que fazer, a quem recorrer, sem poder me despedir, sem saber como enfrentar o luto!
Assim como eu, centenas de migrantes enfrentam esta mesma situação. Pensando nisso, o Europe LifeStyle convidou a aconselhadora psicológica Graziela Birrer para escrever um artigo e nos ajudar nessa situação.
Se a perda de uma pessoa querida já é dolorosa, a dor parece ganhar uma intensidade ainda maior quando acontece na vida de indivíduos que moram em um outro país. A distância entra em um conflito imenso com o desejo de estar próximo e muitas vezes parece impossível superar a tristeza e voltar a sorrir. Mas não precisa ser assim.
As pessoas processam a dor da perda de forma bastante individual. Enquanto alguns precisam falar sobre o assunto, outros buscam no silêncio uma maneira de assimilar o sofrimento. Mas para que a tristeza e dor sejam processadas de forma saudável, é importante que haja espaço necessário para sentir e expressar o luto.
Estado de Choque e Dormência
Nessa fase, é importante pedir ajuda de pessoas próximas que possam oferecer presença e apoio incondicionais e, se possível, limitar as atividades rotineiras ao estritamente necessário. Uma rede de apoio é muito importante. E esse pode ser um obstáculo na vida de muitos migrantes. Portanto, a busca por amigos e suporte - seja na região ou à distância, através de familiares, centros de apoio, centros religiosos ou mesmo ajuda profissional - é essencial para a diminuição da sensação de desamparo e abandono.
Permita-se Sentir o Luto
Tristeza, ansiedade, agitação, raiva. Com o tempo começa a ruptura das emoções e nos migrantes muitas vezes vem acompanhada ainda de culpa e impotência. Impotência pela impossibilidade de apoiar seus familiares ou amigos em um momento de sofrimento. E culpa pela distância física, pelas escolhas de vida e por não “poder fazer nada” pelos conhecidos, amigos ou parentes. O falecimento de alguém próximo, mesmo quando esperado, parece chegar de surpresa e promove um desequilíbrio. No caso de famílias, a estrutura é modificada e é necessária uma reorganização de todo o sistema. Nessa fase é importante se permitir viver a dor do luto, pois a sua negação pode ter um impacto bastante negativo.
Prepare o Seu Ritual de Despedida
É aconselhável que, mesmo distante, o indivíduo encontre uma forma de despedida de quem se foi. Como muitas vezes não consegue participar do velório ou enterro, é essencial que consiga fazer uma despedida consciente da pessoa falecida. Pequenos rituais podem ser de grande valia. Escrever uma carta de despedida, visitar um lugar especial ou fazer uma caixinha de fotos, recordações e memórias podem ajudar.
Cada Um Tem Seu Ritmo
Cada pessoa deve encontrar, no seu ritmo o próprio caminho. Mas é importante que exista uma forma que supere a distância física e permita o fechamento desse ciclo. Isso possibilita deixar que os entes falecidos ocupem seu devido lugar no passado, e que a energia necessária para que a vida continue possa fluir livremente, gerando um novo equilíbrio físico e mental.
É válido lembrar, porém, que explicações e sugestões não nos protegem totalmente da dor. O luto e a tristeza fazem parte da natureza humana. Aceitar a perda e aguardar a passagem do tempo ajudam a acalmar o coração e reorganizar as emoções.
Graziela Velardo Birrer
Aconselhadora Psicológica IKP, Beraterin SGfB
* Como complemento para esse texto utilizei o trabalho da psicoterapeuta alemã Dra. Doris Wolf, no qual me baseio para acompanhamento de clientes que passam por situações de perda.
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